Moro num prédio cujo nome é Condomínio Fernando Pessoa. Além do fato de eu ser um grande admirador deste escritor português, a história do prédio guarda uma figura enigmática em sua origem. Sr. Soares, velho português veio para Fortaleza e logo se encantou com o local. Juntou todas as suas economias e resolveu que aqui iria se estabelecer e investir no ramo de imóveis. Então por ele foi construido o condomínio Fernando Pessoa contratando uma construtora local para levantar a obra. Seu Soares não era homem muito cuidadoso em seus negócios, resolvia tudo de boca e achava que documentos só atrapalhavam. Desta forma não cuidou da burocracia básica como escrituras, averbações, certidões. Até hoje os proprietários das unidades do prédio Fernando Pessoa, incluindo a minha pessoa, vivem entre problemas jurídicos acarretados pelo descuido do velho português. Porém Seu Soares teve um fim nada feliz. Após o sucesso do empreendimento e com os bolsos fartos, atirou-se de cabeça no mundo de pândegas e boemia que Fortaleza provém com excelência para seus habitantes. Entregue à prostitutas, bebida e vícios, o velho coração de Seu Soares não aguentou uma última farra na praia de Morro Branco e por lá bateu as botas. No prédio onde moro, ninguém conheceu pessoalmente Seu Soares e ele virou uma espécie de lenda maldita. Fiz este retrato em homenagem a ele puramente por estinto sem saber como ele realmente era e fico curioso para ver uma foto do velho. Seria mais do que coincidência constatar que acertei. Depois de um tempo de sua morte, chegaram ao condomínio, algumas famílias ocupando os apartamentos que estavam no nome de Seu Soares. Descobriu-se mais tarde que eram os filhos portugueses com suas famílias que chegaram para reivindicar o que lhes pertenciam, mas isso é outra história.